De olho no confronto diante o maior rival, Atlético, no próximo sábado (20), o Cruzeiro segue se preparando com a missão de manter a invencibilidade no estádio adversário, onde venceu dois clássicos e empatou um.
Em meio a isso, o principal nomes do clube, o camisa 10 Matheus Pereira, revelou detalhes de sua carreira e sua vida, em carta feita para o portal The Players Tribune. Nela, o jogador falou sobre um período sombrio de sua vida, e comentou a felicidade de defender o clube do coração, que é o Cruzeiro.
O jogador ainda citou problemas com álcool, drogas, e até mesmo pensamentos suicidas durante sua carreira, mas afirma ter se reencontrado no Cruzeiro, e ainda mantém o sonho de defender a Seleção Brasileira. Confira:
"Naquela altura, eu já tinha prometido à minha esposa e a mim mesmo que não voltaria de jeito nenhum para a Arábia e não cumpriria o restante do contrato no Al-Hilal. Mas aí a Seleção Brasileira foi fazer um amistoso contra Senegal em Alvalade, o estádio do Sporting. Bom, quer saber? Tô aqui de bobeira, com tempo de sobra, vou lá. Comprei ingresso e fui assistir. De repente, sentado na arquibancada, eu me pego emocionado. Sinto meu coração bater diferente. Comecei a fantasiar que o treinador ia me chamar e eu ia entrar em campo pra ajudar a Seleção. Será que eu seria capaz de reencontrar uma vida autêntica no futebol? Ainda daria tempo? Onde isso seria possível? Qual o caminho? O caminho quem me mostrou foram as cinco estrelas mais bonitas do céu. Aquelas cinco que brilham sobre um azul infinito e glorioso. Quando o Cruzeiro me procurou, eu imaginei as cinco estrelas brilhando em cima do meu coração e falei: “Caracaaa, é isso!”. O que pode ser mais autêntico na minha vida do que o Cruzeiro? Eu sempre fui cruzeirense. Antes que tudo acontecesse, quando o futebol era só uma alegria imensa e verdadeira, eu brincava de bola querendo ser o Alex, querendo vencer a Tríplice Coroa, mesmo que todos os meus familiares torcessem para o rival. Se podia dar certo, se havia alguma esperança, o Cruzeiro era o meu único caminho. Juntei as minhas coisas em Portugal e, ansioso, pela primeira vez fiz uma grande mudança por livre e espontânea vontade. No Cruzeiro eu reencontrei mais do que paz. Eu me reencontrei. Parece bobagem, mas não é. Porque no meio da escuridão, e eu andei muito por lá, a coisa mais difícil que tem é a gente se reconhecer. E isso piora demais uma situação que já está ruim. A gente não sabe mais quem é. Chegar num estado de degradação mental em que você se anula a ponto de desejar morrer é um processo violento e complicado de sair. Traz muita dor pra você, pra quem você ama e praqueles que te amam. Ninguém sai disso sozinho. Precisa pedir ajuda e acreditar nas palavras do Luis Castro: “Sempre haverá estrelas iluminando o céu”. Eu sei que não é fácil, mas, por favor, acredite e peça ajuda. A vida não desiste da gente. Ela insiste. Eu tô aqui de prova. A terapia me ajudou demais, e Deus me mostrou uma luz no fim do túnel. No meu caso, a luz das estrelas, que me guiaram na escuridão e recolocaram brilho nos meus olhos. Era o futebol me estendendo a mão — sim, mais uma vez. Por isso, quando cruzei o portão da Toca, em julho do ano passado, eu prometi segurar essa mão com toda força do mundo, ser eternamente grato e retribuir com conquistas a confiança do meu clube de coração.”