Sete anos depois, Corinthians vê outro Derby histórico virar “divisor de águas” da temporada

Foto: Ronaldo Barreto/Ag. Paulistão
Resumo
Assim como foi em 2017, Corinthians pode ter um Derby como ponto de partida para virar a chave na temporada.

Coluna do Henrique José

O palco foi diferente, o contexto também, mas após sete anos o torcedor corinthiano voltou a vivenciar uma noite histórica em um Derby que pode ser o divisor de águas da temporada. No dia 22 de fevereiro de 2017, sob o comando de Fábio Carille e com um jogador a menos, o Corinthians batia o Palmeiras por 1×0 com um gol heroico de Jô. Já neste domingo, 19 de fevereiro de 2023, o empate por 2×2 trouxe um sabor de vitória para a Fiel.

O contexto da partida

O Palmeiras, atual campeão brasileiro, era o favorito para o Derby, como vem sendo nos últimos anos. Com um trabalho longo e consolidado de Abel Ferreira, a equipe chegou à Arena Barueri para encontrar um Corinthians em busca de recuperação, lutando para ter chances de chegar ao mata-mata do Paulistão e com um recém-chegado António Oliveira em seu terceiro jogo pelo clube.

Mesmo com a ausência de Raphael Veiga, fora por uma infecção ocular, o time mandante contou com o retorno de Endrick, principal revelação do clube no século e peça fundamental na campanha que culminou no título brasileiro de 2023. Abel Ferreira escalou o melhor que tinha à sua disposição para confirmar o favoritismo no clássico.

Por outro lado, o Corinthians chegou ao primeiro Derby da temporada motivado após duas vitórias consecutivas, mas ainda se reestruturando em meio ao começo de trabalho do português António Oliveira. Lanterna do grupo C, o Timão precisava pontuar contra seu arquirrival para seguir vivo na disputa por uma vaga na próxima fase do estadual. Além disso, a equipe não tinha o volante Maycon à disposição e foi a campo com Fausto Vera.

Antes de derrotar Portuguesa e Botafogo-SP, o Alvinegro venceu apenas a estreia do Campeonato Paulista e sofreu cinco derrotas seguidas, o que trouxe a necessidade de pontuar naquele que seria o mais complicado e importante confronto da primeira fase.

Como foi o jogo?

Após dois jogos sólidos com António Oliveira, o Corinthians não conseguiu replicar os pontos positivos no Derby. Apesar de ainda apresentar mais organização do que com Mano Menezes, a equipe demonstrava muito nervosismo e não conseguia ter a posse de bola. Substituto de Maycon, o argentino Fausto Vera decepcionou a torcida corinthiana mais uma vez e deixou muito espaço no meio de campo, além de ser nulo na construção ofensiva.

O Palmeiras, por outro lado, começou a dominar o jogo após 15 minutos iniciais amarrados e viu a dupla de ataque Endrick e Flaco López atormentar a defesa adversária. Logo aos 17 minutos o atacante argentino ficou frente a frente com Cássio e bateu para fora, perdendo uma chance claríssima de abrir o placar. A partir daí, o volume ofensivo da equipe mandante aumentou e o Timão não chegava à segunda metade do campo.

Flaco ainda desperdiçou outra oportunidade, enquanto Zé Rafael parou em Cássio. O primeiro gol palmeirense estava maduro, até que, aos 41 minutos, Endrick recebeu na entrada da área após erro do Corinthians na saída de bola. O camisa 9 cortou para o meio, finalizou forte e abriu o placar. O jogador ainda teve mais uma chance clara na sequência, mas chutou em cima do goleiro corinthiano.

Sem alterações, o Corinthians não foi capaz de mudar o panorama da partida e continuou sendo pressionado no segundo tempo. Marcos Rocha marcou aos três minutos, mas a arbitragem anulou o gol por impedimento. Fausto Vera até obrigou Weverton, mas o Alvinegro seguiu com muitas dificuldades de manter a bola.

António Oliveira sacou Wesley e Romero para colocar Pedro Henrique e Gustavo Silva. As duas mudanças mudariam o rumo do Derby, mas antes disso, o Palmeiras ampliaria o placar com Flaco López após cobrança de escanteio. A vitória parecia muito bem encaminhada, mas o destino guardava um roteiro memorável para a Fiel.

O ressurgimento do Corinthians na partida

Estreante da noite ao lado de Matheus França, Pedro Henrique entrou bem no clássico e buscou jogadas pelo lado esquerdo para recolocar o Timão na partida. Em seu primeiro ataque, limpou a marcação e bateu para o gol, parando em Weverton. Do outro lado, Gustavo Silva passou a preocupar a defesa rival com arrancadas em velocidade.

Aos 41 minutos da segunda etapa, o camisa 19 fez a jogada que deu início à reação corinthiana no Derby. Superando a marcação, Gustavo Silva levou para linha de fundo e cruzou para o meio da área. Lá estava Yuri Alberto, que se livrou dos zagueiros e bateu no contrapé do goleiro rival, aproveitando a sua primeira e única chance no jogo.

Quando a esperança passava a tomar conta da Fiel, Rony recebeu lançamento após vacilo da defesa corinthiana e ficou de frente com Cássio. O goleiro alvinegro demorou a tomar uma decisão e acabou cometendo falta no atacante. Resultado: expulsão para o camisa 12, que ainda deixou o gramado da Arena Barueri machucado.

Para completar o desespero corinthiano, António Oliveira já tinha utilizado todas as substituições possíveis e Carlos Miguel não poderia entrar no jogo. Yuri Alberto até foi cogitado para pegar as luvas, já que joga de goleiro nos “rachões” do elenco, mas optou por seguir na linha por ainda acreditar no empate.

O zagueiro Gustavo Henrique foi escolhido para assumir a meta, principalmente por ser o jogador mais alto em campo. Na cobrança da falta, Piquerez não aproveitou a ausência de um goleiro de ofício na meta adversária e bateu para fora. Neste momento, um sentimento diferente já surgia no torcedor corinthiano, já que o destino reservou muitos roteiros incríveis para o Alvinegro Paulista ao longo de sua história, como naquele Derby de Fevereiro de 2017.

Com um a menos, o Corinthians seguiu lutando e buscou o ataque, mas o contexto do jogo ficaria ainda mais complicado. Aos 50 minutos, Murilo acertou uma joelhada em Yuri Alberto e recebeu um cartão amarelo. Entretanto, a falta foi responsável por uma fratura na costela do camisa 9 do Timão, que deixou o gramado chorando, com muita dor e dificuldade para respirar. Ali, o Timão passou a jogar o clássico com dois jogadores a menos.

A partida parecia ainda mais perdida, mas o “espírito corinthiano” manteve a esperança acesa nos jogadores alvinegros. Na cobrança, Garro tocou para Pedro Henrique, que sofreu nova falta. Nesta nova oportunidade, o meia argentino resolveu fazer o diferente e marcou o seu nome para sempre na história do Derby.

Rodrigo Garro até combinou com Raniele que cruzaria a bola na área, mas sua mente arquitetava um outro movimento na hora de bater a falta. Com muita personalidade, o camisa 16 bateu direto para o gol e, com uma precisão impressionante, a bola tocou a trave e entrou para o fundo das redes de Weverton.

O argentino fez a comemoração que utiliza desde os tempos de Talleres, onde simula um “louco”, e causou no “bando de loucos” uma emoção que será relembrada e repassada por diversas gerações de corinthianos, assim como foi com Romarinho em 2012 e com Ronaldo Fenômeno derrubando o alambrado em Presidente Prudente em 2009.

Antes do jogo acabar, o torcedor corinthiano ainda tomaria um susto. Após bola rebatida na área, Zé Rafael chutou, Murilo desviou e a bola passou por baixo dos braços do goleiro improvisado Gustavo Henrique. Mas, em cima da linha estava Raniele, que afastou e evitou a derrota no Derby.

A esperança que surge na Fiel

A classificação para o mata-mata do Campeonato Paulista segue sendo difícil, mas o empate heroico no Derby aumenta as esperanças da Fiel para o restante da temporada. Vivendo um bom início no Corinthians, António Oliveira deve ter ainda mais tranquilidade para trabalhar e terá em mãos um elenco ainda mais motivado.

Na próxima quinta-feira (22), pela primeira fase da Copa do Brasil, a equipe tem um compromisso contra o Cianorte fora de casa. O Corinthians buscará consolidar a virada de chave na temporada e aproveitar a sequência de três jogos sem derrota. Após uma longa sequência negativa, o torcedor corinthiano tem a expectativa que a equipe apresente uma constante evolução após buscar o empate heroico contra o rival.

Os Derbys marcantes sempre são símbolos de anos vitoriosos do Corinthians. Assim como foi em 2009 com Ronaldo, em 2011 com o título Brasileiro, em 2012 com Romarinho e duas vezes em 2017, pelo Paulistão e pelo Brasileirão, a Fiel espera que o jogo deste domingo seja o marco de uma trajetória histórica.

Principais vídeos

plugins premium WordPress