De olho nos próximos jogos, principalmente na volta das quartas de final da Libertadores diante o Fluminense, o Atlético segue treinando e conta com seu principal nome para buscar a vitória em casa: o camisa 07 Hulk. O jogador é ídolo do clube e busca seguir na briga pelo tão sonhado título continental.
Com uma identificação gigantesca com o clube alvinegro, Hulk concedeu entrevista exclusiva ao ge e falou a respeito das oportunidades na Seleção Brasileira ao longo da sua carreira, relembrando episódios que o teriam feito perder vaga na equipe canarinho, como na Copa de 2010, com o Dunga.
Em 2010, eu acho que eu só não fui por uma situação. Na época, a vaga, teoricamente, seria do Adriano. Houve lesão, ele ficou sem jogar e tudo mais, e eu fui convocado para dois amistosos. Joguei, o Dunga me elogiou bastante e falou: “Conto contigo, volta para o Porto, dá o teu melhor. Você vai voltar com a gente, eu conto contigo”. Eu voltei muito confiante, estava vivendo um momento muito bom em Portugal na época. Final de 2009, teve o clássico em Luz, contra o Benfica. Perdemos o jogo de 1 a 0. Teve muito tumulto nesse jogo. No término da partida, já estava no vestiário, eu escutei “confusão, confusão”.
Estava eu, Fernando, tinha mais um. A gente saiu correndo para ver o que estava acontecendo e, quando chegou no túnel, o espaço que dava acesso a le, estava aquela confusão, empurra-empurra. Nossos jogadores estavam conversando com o staff de segurança do jogo e estava aquele empurra-empurra e provoca. Não sei quem tentou dar um soco em um dos seguranças e deu de volta, e começou a confusão. Cara, quando acaba a confusão, o Rui Costa, que era o diretor do Benfica na época, veio e me chamou assim, me pegou no meu braço: “Hulk, o que é isso que está acontecendo, para que isso?”, “Para que isso, Rui Costa? Vocês que montaram tudo isso. Vocês ganharam o jogo, beleza, agora mandar os seguranças arrumarem confusão com a gente?”. Só que depois repercutiu para caramba tudo. Quando entramos no ônibus, suspenso eu e o Săpunaru. Estava todo mundo envolvido, suspenso eu e o Săpunaru. Ficamos sem entender.
Tentaram pegar imagem, porque, nesse mesmo ano, teve uma confusão Benfica e Braga, onde eles puniram dois jogadores do Braga, porque foi nítido e a imagem mostrava tudo. Tentaram pegar imagem do túnel, a gente queria que pegassem a imagem, só que a imagem que pegaram era dos seguranças do jogo, eles estavam mexendo nas imagens, direcionando as câmeras para um ponto cego, antes da partida. Onde teve a confusão era um ponto cego, ou seja, foi um negócio muito estranho, mas aconteceu. Me deram uma suspensão de três meses, era pra pegar 23 jogos. Nesse período, era só treinar. Com duas semanas que estava suspenso, tive uma proposta do Milan.
Conversei com o diretor, “Deixa eu ir pro Milan, me empresta”. “Não, não vai. Vamos reverter isso aqui”. Falei: “Vai reverter o quê? Eu quero jogar, não está dando mais, estou só treinando”. Foi só passando o tempo, não deixavam. O Milan fez uma proposta de empréstimo com opção de compra, o Porto não queria deixar de jeito nenhum. Passou. Por isso que eu falo que eu sou muito grato ao Jesualdo, porque nesse período ele foi fundamental. A gente treinava, acabava o treino e ele me chamava. E eu não podia jogar no final de semana. Ele falava: “Vamos treinar um pouquinho mais”. Ficava treinando e ele: Bola aqui, domina assim, isso e aquilo, vamos, vamos, bota isso para fora”. Porque ele sabia que eu precisava botar pra fora. Ele fazia isso comigo para que eu terminasse o treino cansado. Ele foi fundamental. Passou o período, quando o Porto não tinha mais chances de ser campeão, saiu um resultado que era pra eu ter pegado só três jogos de suspensão, eu já tinha pego 18, eram 23 no total. Em um ano de Copa.
Na época, talvez, a imaturidade. Poxa, se fosse hoje, é mais fácil falar pela experiência: “Não , eu preciso jogar, tem uma Copa do Mundo. Eu estou nos planos, eu preciso jogar”. Aí você compraria a briga e pronto. Naquela época, eu tinha acabado de chegar em Portugal, 22 anos. Então, foi difícil aquele momento. Quando me liberaram para jogar, eu voltei a jogar, não lembro qual mês de 2010. Desde que eu voltei a jogar em 2010, fiquei 2010, 2011, 2012, 2012. Saí para o Zenit, eu não perdi um jogo em campo pelo Campeonato Português com o Porto. Então, o Porto tomou um prejuízo, que até depois entrou contra a Federação, porque a gente não se classificou para a Liga dos Campeões, porque não tinha mais condição. Não tinha mais chance de ser campeão, não tinha mais chance de se classificar. Foi um ano difícil”
Hulk comentou também sobre a imagem de ser um jogador só de força poderia, de certa forma, ter atrapalhado suas chances na seleção?
Sem dúvidas atrapalhou, porque a gente sabe que o microfone tem muito poder. Para você ter ideia, eu estava assistindo algum programa de televisão e o pessoal falando de mim: “Será que está falando de mim? Acho que é outro jogador, essas características e tudo isso”. Mas não é nada que me deixava triste, que eu me chateava. Eu falava assim: “Um dia eles vão me conhecer jogando mesmo”. Hoje é tudo mais fácil, você vê Campeonato Árabe, Campeonato Chinês. Na minha época, não tinha isso, não tinha esse acesso, esse conhecimento. Quando eu cheguei em 2021 aqui no Brasil, sendo acompanhado de perto, eu via muita gente me pedindo na Seleção, onde me pediram para me tirar, Futebol é momento. Se você está bem, vai ser cobrado para estar lá, agora se você está mal, você vai ser criticado. O futebol é isso. Eu quero que eles me critiquem, mas em cima das minhas características, que, infelizmente, devido a acompanhamento, não tinha isso, não tem o acompanhamento. Você acabava sendo criticado por uma característica que não é sua.
Por fim, Hulk relembra um dos momentos mais doloridos de sua carreira, a semifinal da Copa do Mundo de 2014, contra a Alemanha, no Mineirão. O jogo histórico ficou marcado pelo resultado de 7 a 1, e o jogador comentou sobre o episódio.
Sem dúvidas foi o pior momento, falando na parte futebolística, falando assim como profissional, o pior dia. Eu te juro que, quando começou o jogo, a gente até começou bem, quase que fizemos 1 a 0, e depois chega 1 a 0 pra Alemanha, 2 a 0, 3 a 0. Eu ficava olhando e pensando “estou tendo algum pesadelo, isso aqui não tá acontecendo”. Chegamos tão confiantes para o jogo, principalmente depois do jogo da Copa das Confederações. Era no Brasil, era uma seleção que estava sendo montada, tudo isso, estava na final contra a Espanha, fez um grande jogo, 3 a 0. Chegamos para essa Copa do Mundo muito motivados e confiantes para fazer uma grande Copa no nosso país. Quando aconteceu dos 5 a 0, no intervalo do jogo, um olhava para o outro, tentando entender o que estava acontecendo. O Felipão até falou, “vamos voltar lá, tentar minimizar o máximo, é o que a gente pode fazer”. No final da partida, todo mundo chorando, ninguém queria pegar o celular. Lembro que eu não tinha coragem de pegar o telefone, só ficava no meu canto chorando, tentando entender. Foi difícil, até hoje não conseguimos explicar aquele jogo.