De antemão, é preciso dizer: James Gunn acerta em cheio em Superman. Se pararmos para analisar, o pontapé inicial deste DCU é o mesmo do DCEU por ter o mesmo personagem no centro. Mas, ao mesmo tempo, é o completo oposto.
Se no DCEU Zack Snyder tenta construir um Superman muito mais baseado nos ideais de Injustice, com o personagem como uma figura de poder indestrutível, no DCU James Gunn traz um Superman muito mais "Man" do que "Super", não como um Deus, mas como um herói.
De fato, é um filme cartunesco e com cara de HQ, com referência até mesmo a Star Wars. Mas ao mesmo tempo, é um filme que tem coração e, mesmo que implicitamente, coloca em pauta discussões atuais e delicadas que dão o tom de dramaticidade e tensão certo num filme que precisa (e consegue) atingir todos os públicos.
Em todo filme, os personagens centrais precisam funcionar perfeitamente. E em Superman, a escolha dos atores para o trio principal (Superman, Lois e Lex) se encaixa como uma luva - bônus ao Krypto, que é um alívio cômico recorrente (e às vezes até irritante, vai até mesmo lembrar seu pet).
David Corenswet é um acerto em cheio de James Gunn. Seja como Superman, seja como Clark (e, acreditem, isso é fundamental), ele é impecável.
Rachel Brosnahan como Lois Lane é uma grata surpresa, com uma atuação natural e, principalmente, com uma química fora do comum com o David. Ao lado de Corenswet, é um espetáculo a parte. Das cenas "mais quentes" às discussões que um casal tão diferente normalmente tem, tudo funciona nos dois.
E Nicholas Hoult como Lex Luthor é um show à parte. Inclusive, não é nenhum absurdo dizer que ele é o melhor Lex Luthor dos cinemas e rouba todas as cenas em que aparece
Neste filme, Lex é apenas um vilão que odeia o Superman e usa de toda a sua genialidade e poder para destruí-lo, sem nenhuma complexidade absurda que os filmes tanto procuram. É apenas um ódio que funciona perfeitamente.
Outro acerto incontestável do filme são as cenas de ação. Tudo que envolvem as cenas de ação chama a atenção, e neste filme não é diferente. Toda cena de luta te prende de uma maneira que não é possível desgrudar o olho da tela.
Apesar dos acertos, dizer que é um filme perfeito não é certo. No primeiro ato, a simplicidade como as coisas são contadas funciona perfeitamente. A apresentação desleixada do herói e do problema central da trama é quase impecável, mas no segundo ato, a correria escorrega no roteiro curto.
Que o filme é recheado de personagens, isso é fato, e em alguns momentos parece que o roteiro de Gunn tenta abraçar tudo ao mesmo tempo, e algumas coisas ficam jogadas no ar sem resposta.
Durante o desenrolar da trama, é possível ver três ou quatro subtramas em desenvolvimento ao mesmo tempo e, no fim das contas, a solução de algumas delas é rasa ou sem explicação.
Alguns personagens (como o Senhor Incrível), parecem ser usados em determinados momentos apenas como um facilitador de roteiro - apesar de ter algumas cenas muito boas. Outros (Mulher-Gavião e Perry White), são nitidamente jogados para escanteio e pouco usados.
O filme peca quando tenta abraçar o mundo sem ter tempo pra isso, e derrapa em algumas soluções rasas. Mas, no fim das contas, a correria do roteiro no segundo ato não afeta tanto assim na experiência do filme.
Recentemente, foi comum vermos filmes que transformam a fase final numa salada de confusão, cheia de ação, CGI exagerado e diálogos genéricos. Em Superman, nada disso acontece.
É, de fato, repleto de cenas de ação, mas todas elas funcionam muito bem e, principalmente, todos os diálogos feitos para ligarem as pontas são redondinhos. O terceiro ato entrega ação, emoção e chega ate a te dar ansiedade para saber o desenrolar das coisas - mesmo que no fundo o final todo mundo saiba.