Em meio a mística que o envolve o trabalho de um diretor de cinema, há uma interpretação automática de que esse tipo de profissional é o autor absoluto de um filme. No entanto, nem de forma superficial isso se aproxima da verdade.
Mesmo quando estamos diante de diretores/autores como Quentin Tarantino e Paul Thomas Anderson, há toda uma estrutura de colaboração que envolve dezenas (ou centenas) de profissionais.
Na parte autoral do trabalho, o diretor — em tese — é o responsável por unificar as metas de toda essa equipe, fazendo com que todos criem sob sua visão do que deve ser uma determinada obra.
Portanto, não dá para dizer que esse tipo de profissional é um autor absoluto, uma vez que muito raramente ele executa tudo sozinho.
O Tarantino mesmo já explicou isso quando disse que um diretor não necessariamente precisa saber fazer seu filme, mas sim ter clareza no que quer executar.
“Se você realmente ama cinema com todo seu coração e com paixão suficiente, você fará um bom filme. Você não precisa ir à faculdade, você não precisa saber como as lentes de 40mm ou 50mm funcionam... Nada disso importa", afirmou o diretor.
Além disso, um diretor de cinema é um gestor em todos os quesitos, seja de tempo, orçamento, pessoas, riscos, segurança ou processos.
Otimizar o tempo da diária da produção é tão trabalho de um diretor quanto ditar o ritmo de um filme.
Projetar com boa antecedência as filmagens em locações internas e externas para evitar estourar o orçamento, é tão trabalho de um diretor quanto escolher as câmeras usadas em um filme.
Deixar o elenco confortável e confiante, além de resolver problemas dos atores, sejam eles grandes ou pequenos, é tão trabalho de um diretor quanto explicar como os personagens devem se comportar em cena.
Ao avaliar a situação na qual diretores de cinema trabalham em grandes estúdios, é possível perceber que, assim como qualquer profissional, um diretor é alguém que precisa engolir alguns sapos para pagar suas contas.
Às vezes, para esse tipo de profissional, está tudo bem emprestar sua credibilidade para uma obra que ele não exerce um controle criativo significante, desde que haja um bom pagamento.
Em suma, o resumo é que nem sempre o diretor é o grande autor de um filme - e as vezes isso pode ser bom ou ruim.